quarta-feira, 30 de julho de 2008

Amigo é Casa

(Capiba / Hermínio Bello de Carvalho)

Amigo é feito casa que se faz aos poucos e com paciência pra durar pra sempre mas é preciso ter muito tijolo e terra, preparar reboco, construir tramelas, usar a sapiência de um João-de-barro que constrói com arte a sua residência há que o alicerce seja muito resistente que às chuvas e aos ventos possa então a proteger.

E há que fincar muito jequitibá e vigas de jatobá e adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar que os cabelos brancos vão surgindo que nem mato na roceira que mal dá pra capinar e há que ver os pés de manacá cheios de sabiás sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis choro de imaginar!

Pra festa da cumieira não faltem os violões! Muito milho ardendo na fogueira e quentão farto em gengibre aquecendo os corações.

A casa é amizade construída aos poucos e que a gente quer com beira e tribeira com gelosia feita de matéria rara e altas platibandas, com portão bem largo que é pra se entrar sorrindo nas horas incertas sem fazer alarde, sem causar transtorno amigo que é amigo quando quer estar presente faz-se quase transparente sem deixar-se perceber amigo é pra ficar.

Se chegar, se achegar, se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha e oferece lugar pra dormir e comer amigo que é amigo não puxa tapete oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem quando não tem, finge que tem, faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

QUERER, do verbo REALIZAR

Hoje eu não sou a mesma de ontem. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.

Acordei repensando minha vida, revendo minhas metas, organizando meus objetivos, idealizando meus projetos, desenhando meus caminhos.

Decidi amar mais, odiar menos, fazer mais amigos, não me incomodar com qualquer coisa, sorrir mais, chorar menos, brincar mais, brigar menos, sonhar mais, desistir menos, escutar mais, falar menos.

Escolhi correr, pular, dançar, gritar, aparecer, cantar, vibrar, torcer, VIVER sem a preocupação do julgamento, do olho torto e até da condenação.

Tudo isso passa pelo Querer. Não o querer um chocolate, que você vai na banca da esquina e compra um. Mas um querer mais profundo, mais "de dentro pra fora", mais institivo, mais desafiador. Uma vontade que surge não-sei-de-onde, de não-sei-o-quê, mas que está lá, incomodando, fazendo correr atrás, incitando a briga (no bom sentido) de você consigo mesmo; dizendo pra sair do marasmo, do lugar-comum, da vidinha casa-trabalho-casa.

Querer. Sonhar. Desejar. Pedir. Realizar. Quem quiser que diga que no dicionário não significam a mesma coisa, mas na vida andam de mãos dadas, sempre e juntos. Um não acontece sem o outro. E você não acontece sem eles.

Por isso, hoje eu não sou a mesma de ontem. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.

(Linhas livremente inspiradas numa parte de mim qu ainda está pra nascer).

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Quando é preciso fingir...

Quando a mágoa não é necessária
Quando não se encontram as palavras adequadas
Quando a massa não compartilha da sua idéia
Quando se está no palco
Quando não quer ser transparente
Quando não quer usar a ironia
Quando o silêncio impera
Quando se é tímido
Quando o assunto incomoda e não quer falar sobre ele
Quando a comida tá ruim e você tem que agradar quem a preparou

Fingir não é ser falso. Não é mentir. Não é esconder. Pelo menos não sempre. Fingir é lícito, é honesto, é necessário.

Só cuidado pra não fazer da vida um fingimento. Fingir não é regra. A verdade é a regra. Mas não faz mal usar a exceção quando convém.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Juntando madeira para construir uma porta

Uma porta pode ser uma passagem, um objeto decorativo, algo que te afasta de pessoas e coisas quando está fechada, que aproxima quando está aberta, pode ser um "cabide de coisas inúteis", pode ser algo que você não dá valor, pode ser acústica, pode ser necessária, pode ser de vários materiais (até de madeira), pode ser alta, pode ser dividida em duas, pode ser da sala, do corredor, do quarto, do banheiro, do carro, da geladeira e, para os crentes, como eu, pode ser o último obstáculo pra entrar no céu.

Pois bem, qualquer que seja a sua porta, ela leva tempo pra ser elaborada, moldada, montada. Não sei como é o processo, mas deve-se precisar serrar a madeira, tratá-la, dar a forma de retângulo, depois lixar, envernizar, pintar, colocar as dobradiças, parafusa-las, colocar as maçanetas... E isso tudo leva tempo. Dependendo de onde você manda fazer, pode demorar mais ou não, depende da qualidade e velocidade dos profissionais que estão trabalhando nela. E da sua cobranla com eles.

O certo é que a minha porta ainda está em fase de análise, como eu vou querer a minha porta. Mas a minha porta não é num sentido literal, mas figurativo. A minha porta é algo que não existe, é indiferente, está ali por estar ali, nem mais nem menos. Não é fácil, pois existem diversos detalhezinhos que não podem passar em branco que se chamam sentimentos. Não posso construir uma porta simplesmente por construir, é uma decisão séria e definitiva. Já cosntruí diversas outras portas antes e nenhuma delas, até hoje, deixou de ser porta e, o mais curioso, é que não me arrependo disso, embora algumas delas tenham sido construídas com o material da emoção e não da razão. Mas esta é diferente. Precisa ser mais forte, mais resistente pra aguentar os trancos que sua construção pode trazer.

Ainda estou na escolha da madeira. Ela pode nem chegar a ser construída, algumas coisas podem acontecer e eu desista dela. Mas o tempo é ligeiro e não espera. E eu não estou esperando, só estou no meu tempo.